05 nov dia #05 – os esquecidos não esquecem
maldita civilização
com mania de fazer coleção
um teve a ideia e tantos
concordaram cúmplices
em me colocar aqui
premeditado esquecimento
neste solo sujo frio úmido
onde nem minhoca frequenta
quando eu atingir meio século de abandono vai
rolar aquela festa
bolo quilométrico pra mamãe e pro filhinho
cidade reunida na Praça dos Enforcados
os responsáveis por tal barbárie que me sucede
mortos já são vai ver
também estão enterrados em chão frio e arrependidos
ou pior ainda, carbonizados
não entendo o mistério a enrolação
minha redenção será ver o rosto de autoridade
se desfazer da simpatia
ao me livrar daqui quero rir
da cara de quem me abrir
encarar entranhas de metal
mofo de água salobra
encontrar apenas
o catálogo da Fenadoce 2020
um poema sobre uma lembrança é o que eu sugeri hoje. não queria ser literal demais, quero me permitir algumas viagens doidas neste mês desafiador, então fiz esse que publico aqui. não foi o que eu mais gostei, confesso, mas tenho tratada o fagulhas como um detox. escrever pra limpar por dentro e estabelecer pelo menos um pouco de rotina de escrita.
ao começar a escrever este poema, lembrei daquele caso de cápsula do tempo que foi esquecida lá em Pelotas. na época achei muito engraçado este acontecimento. uma cerimônia para abrir uma cápsula que, coitada, havia sido esquecida pelas autoridades da cidade. ao abrir, a caixa tava inundada porque é óbvio que as pessoas não pensaram que Pelotas é super úmida e que tinha tudo pra dar errado, hahaha.
agora pensando bem, acho que eu também esqueci uma cápsula do tempo enterrada no quintal da minha avó. espero que ela não esteja chateada comigo, a caixa.
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